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  • Foto do escritorKahlinne Rocha Brandão

A regressão da libido e a etiologia dos conflitos psicológicos


Na teoria junguiana, a regressão da libido é um retorno a atitudes prevalecentes em estágios anteriores do desenvolvimento psíquico, que ocorre mediante a reativação de complexos infantis.

Em outras palavras: é quando o indivíduo passa a aplicar a energia psíquica (libido) de modo retroativo, por não dispor de vontade suficiente para enfrentar os desafios atuais da vida. Assim, a libido não sendo empregada conscientemente para um objetivo específico, seu movimento é direcionado regressivamente, acionando um modo de adaptação infantil por ser o mais fácil ou cômodo (princípio do menor esforço).

A regressão da libido decorre, portanto, da hesitação ou medo do indivíduo diante de uma atual adaptação necessária que lhe exige certo esforço.

No processo natural de crescimento e adaptação, quando o indivíduo se depara com um forte obstáculo mas o medo da superação prevalece, a libido estagna e tende a regredir, ativando reminiscências infantis inconscientes que, então, passam a ser reelaboradas e transformadas em fantasias traumáticas.

Segundo Jung, o mecanismo de regressão da libido a estágios infantis é anormal e está na raiz etiológica de muitos distúrbios psicológicos; concluindo, inclusive, que o conflito patogênico está sobretudo no presente e não nas reminiscências infantis.

Todavia, de acordo com Jung, não podemos negar o valor teleológico dos sintomas psíquicos, uma vez que são “inícios de espiritualização e procura de novos caminhos de adaptação”.

“O retrocesso para o infantil não significa apenas regressão e estagnação, mas também possibilidade de descobrir um novo plano de vida. A regressão é, na verdade, uma condição básica do ato de criação!” OC 4, § 406

Portanto, no processo psicoterapêutico é importante investigar, a nível de consciência: quais obrigações atuais o(a) paciente não quer cumprir e/ou quais as dificuldades que vem tentando evitar; quais as tarefas de adaptação ele(a) precisa executar no momento presente. Isso porque, de acordo com Jung:

“O que mais impede novos progressos na adaptação psicológica é o apego conservador ao antigo, ou seja, às atitudes primitivas. O homem não pode simplesmente conservar inalteradas sua personalidade antiga e seus obetos de interesse do passado, caso contrário sua libido estagnaria no passado, o que seria um empobrecimento para ele.” OC 4, §350

No decorrer do desenvolvimento da personalidade, o indivíduo precisa abrir mão de suas atitudes antigas (fantasias e hábitos infantis), a fim de dirigir sua libido para as tarefas atuais de adaptação à realidade.

Desse modo, o movimento regressivo se encerra na medida em que a libido for sendo canalizada para as atividades que a vida demanda no presente, consumindo-se na solução das obrigações reais, deixando de reativar as fantasias.

Em última instância, um distúrbio psicológico seria “um ato de adaptação que fracassou”. (§574)

Referência:
JUNG. OC 4 - Freud e a psicanálise.
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