Na teoria junguiana, os complexos formam os conteúdos do inconsciente pessoal, como agrupamentos de lembranças, fantasias, imagens e pensamentos, capazes de causar perturbações na consciência do ego quando constelados, ou seja, ativados em determinado “momento psicologicamente carregado” (STEIN, 2005, p. 47), fazendo com que a pessoa tenha reações emocionais e/ou comportamentais até certo ponto previsíveis; havendo a perda do controle do ego nessas ocasiões, por se tratar de algo ainda mais forte que sua vontade pessoal. Um complexo negativo ativado pode nos deixar, inclusive, impotentes diante de suas consequências, caso a estrutura energética do ego não seja capaz de suportar ou neutralizar a pressão oriunda dessa invasão desestabilizante na consciência, podendo decorrer daí um quadro de psicose ou psicossomatizações.
Tais perturbações não são confundidas com os estresses e dissabores provocados pelo meio ambiente externo, uma vez que têm por causa disparadora questões internas do indivíduo, conteúdos que se encontram ocultos à consciência, muitas vezes nos pegando “de surpresa” ao serem acionados. Ocorre que normalmente as situações externas, ambientais, servem de gatilho, fazendo desencadear “um processo psíquico que consiste na aglutinação e na atualização de determinados conteúdos”, nas palavras de Stein (2005, p. 47).
Por outro lado, vale frisar que os complexos não dizem respeito somente a conteúdos inconscientes perturbadores, pois há também em nosso mundo interno complexos positivos e favoráveis ao desenvolvimento da consciência do ego.
Em se tratando dos distúrbios e desequilíbrios da psique, segundo Stein (2005, p. 43): “Os indicadores de complexo são os sinais de perturbação”.
Mais adiante em sua teoria, Jung discorre que em todo complexo existe um componente arquetípico, ou “núcleo arquetípico”, que é, portanto, inato/primitivo. Aqui se estabelece ponto de ligação entre complexos e arquétipos. Para Jung, um complexo afetivo é “a imagem de uma determinada situação psíquica de forte carga emocional e, além disso, incompatível com a atitude habitual da consciência” (STEIN, 2005, p. 51); de modo que no núcleo de todo complexo existe uma imagem arquetípica que define sua essência; sendo, assim, necessariamente de ordem subjetiva (interna, psíquica), ainda que essa imagem venha a representar uma pessoa ou uma experiência da realidade externa.
Portanto, pode-se dizer que o complexo é constituído por dois elementos, um oriundo da experiência pessoal do indivíduo ou, nas palavras de Stein, “imagem ou traço psíquico do trauma originador” (lembranças, interações, padrões familiares, condicionamentos culturais etc.) e outro de caráter inato, a imagem arquetípica associada à experiência pela psique; sendo a emoção o “elemento aglutinante” do complexo (STEIN, 2005, p. 55).
Ressalte-se, ainda, que as imagens arquetípicas, uma vez que decorrem do inconsciente coletivo, já existem em potencialidade no mais profundo do psiquismo humano, sem, contudo, causar perturbações à psique individual. Ocorre que, havendo um trauma na experiência do indivíduo, é criada nesse momento uma imagem plena de emoção que, associando-se a uma imagem arquetípica, gera o que chamamos de complexo, com todas as perturbações daí decorrentes. Nas palavras de Stein:
O trauma cria uma imagem mnêmica emocionalmente carregada que se associa a uma imagem arquetípica e, juntas, essas congelam numa estrutura mais ou menos permanente. Essa estrutura contém uma quantidade específica de energia e pode com esta ligar-se a outras imagens associadas para criar uma rede. Assim, um complexo é enriquecido e ampliado por experiências ulteriores de uma espécie semelhante. Mas nem todos os traumas são de natureza externa ou provocados por colisões abrasivas com o meio circundante. Existem traumas que ocorrem sobretudo no interior da psique individual (STEIN, 2005, p. 56)
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