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  • Foto do escritorKahlinne Rocha Brandão

Designação: uma condição essencial no desenvolvimento da personalidade


Em sua teoria do desenvolvimento da personalidade, Jung define personalidade como “a realização máxima da índole inata e específica de um ser humano em particular”, o que pode ser atingido pelo indivíduo adulto após todo um decurso de vida orientado para tal finalidade. Em outras palavras, para que se alcance a totalidade em termos de desenvolvimento da personalidade – em todos os seus aspectos biológicos, sociais e psíquicos – é preciso que o indivíduo se esforce ao longo da existência com determinação! Jung afirma que sem determinação, inteireza e maturidade não há personalidade!


“Personalidade é a obra a que se chega pela máxima coragem de viver, pela afirmação absoluta do ser individual, e pela adaptação, a mais perfeita possível, a tudo que existe de universal, e tudo isto aliado à máxima liberdade de decisão própria.” (§289)

O desenvolvimento da personalidade – incluindo-se aí as mudanças que vão acontecendo ao longo da existência – não depende apenas da vontade própria, do desejo ou da boa intenção. A determinação é importante, mas o que de fato motiva e impulsiona o desenvolvimento da personalidade é a necessidade! Para Jung, sem haver necessidade, nada muda, pois só a necessidade premente consegue ativar a natureza humana, que assim precisa ser motivada pela coação de acontecimentos internos ou externos. Além da necessidade, Jung aponta também a decisão consciente e moral quanto ao próprio caminho a seguir, o que por sua vez exige que esse caminho seja considerado o melhor


“Se faltar a necessidade, esse desenvolvimento não passará de uma acrobacia da vontade; se faltar a decisão consciente, o desenvolvimento seria apenas um automatismo indistinto e inconsciente. Somente será possível que alguém se decida por seu próprio caminho, se esse caminho for considerado o melhor. Se qualquer outro caminho fosse considerado melhor, então em lugar da própria personalidade haveria outro caminho para ser vivido e desenvolvido. Os outros caminhos são as convenções de natureza moral, social, política, filosófica e religiosa. O fato de as convenções de algum modo sempre florescerem prova que a maioria esmagadora das pessoas não escolhe seu próprio caminho, mas a convenção; por isso não se desenvolve a si mesma, mas segue um método, que é algo de coletiva, em prejuízo de sua totalidade própria.” (§296)

Eis agora uma terceira condição importantíssima para o desenvolvimento da personalidade enquanto individuação; pois, para Jung o que finalmente impulsiona o indivíduo a escolher seu próprio caminho, libertando-se das convenções, não é nem a necessidade (1) nem a decisão consciente e moral (2) – que são as duas condições prévias – mas sim o que ele denomina de designação (3), como sendo “um fator irracional, traçado pelo destino”, que impele o indivíduo a se emancipar da massa gregária, evitando seus caminhos já tão desgastados. Em outros termos, isso significa ser fiel à sua própria lei ou ainda escutar a voz do seu íntimo, sua voz interior!


“Personalidade verdadeira sempre supõe designação e nela acredita, nela deposita pístis (confiança) como em Deus, mesmo que na opinião do homem comum seja apenas um sentimento pessoal de designação. Esta designação age como se fosse uma lei de Deus, da qual não é possível esquivar-se.” (§300)

Uma designação – semelhante a uma vocação – feita por aquela “voz” que provém do interior da pessoa dirigindo-se à consciência a partir de sua centralidade. Jung esclarece que todos nós (grandes ou pequenas personalidades) temos essa designação a cumprir; ocorre que nem todos com a mesma intensidade e precisão, pois geralmente as necessidades da coletividade acabam por suplantar a designação pessoal, ou seja, essa voz interior é substituída pela voz do grupo social e de suas convenções!


“Quanto menor for a personalidade, tanto mais imprecisa e inconsciente se torna a voz, até confundir-se com a sociedade, sem poder distinguir-se dela, privando-se da própria totalidade para diluir-se na totalidade do grupo.” (§302)

O interessante é que mais para frente em suas explicações Jung identifica essa designação pessoal – para cuja fidelidade há grandes desafios como por exemplo o sentimento de isolamento em face do grupo social – não como sendo “sua própria lei” mas sim a como “a lei” ou “a designação”, algo enfim que atende à necessidade inconsciente não somente sua como também de toda a coletividade; posto que essa “voz interior” provém de uma dimensão objetiva conectada com a totalidade psíquica humana. Assim, quando surge essa voz interna num determinado indivíduo trata-se de um chamado pessoal e coletivo ao mesmo tempo! 


“Somente pode tornar-se personalidade quem é capaz de dizer um “sim” consciente ao poder de destinação interior que se lhe apresenta; quem sucumbe diante dela fica entregue ao desenrolar cego dos acontecimentos e é aniquilado. O que cada personalidade tem de grande e de salvador reside no fato de ela, por livre decisão, sacrificar-se à sua designação e traduzir conscientemente em sua realidade individual aquilo que, se fosse vivido inconscientemente pelo grupo, unicamente poderia conduzir à ruína.” (§308)

Desse modo, quando o indivíduo passa a escutar essa voz interior, superando o terror quando “as novas circunstâncias não parecerem previstas pelas antigas convenções”, não se deixa mais dominar pelo pânico decorrente do despertar, segue sua própria lei de vida (inata) e se torna personalidade, “o que significa atingir a totalidade”!


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Ref.: O desenvolvimento da personalidade (Carl Gustav Jung) - OC 17.


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