Um impulso à
Individuação!
Nas palavras de junguianos
e outros autores
Citações Comentadas
"Nossos complexos são história atuante na alma." James Hillman
Lidar com os complexos psíquicos é como adentrar na história da alma (psique) que está o tempo todo buscando narrar seus conteúdos através de imagens! Para Hillman, a terapia de cunho psicológico não pode dispensar as narrativas míticas que embasam nossos complexos pessoais, pois os elementos arquetípicos estarão atuando a todo instante. Assim, toda psicologia dita 'profunda' precisa adentrar em tais conteúdos arquetípicos! Não adianta ficar na superficialidade de nosso entendimento psicológico!
"A pesquisa e o estudo a partir das vertentes imagísticas estão apenas começando. Somente o poto do iceberg despertou. A partir do século XXI, os interessados neste assunto devem se dedicar intensamente, pois, das imagens surgirão não só revelações sobre o corpo psicológico e físico, como descobertas das potencialidades mentais dos seres humanos. As descobertas futuras sobre o inconsciente revolucionarão a história da raça humana." Dra. Nise da Silveira
Em homenagem ao nascimento da Dra. Nise da Silveira, importante médica psiquiatra que revolucionou o tratamento mental em nosso país. Através do seu método empático chamado afeto catalisador, de seu grande interesse pela dimensão inconsciente da psique e com base na teoria junguiana, ela ajudou diversos pacientes com distúrbios mentais a entrarem em contato com seu mundo interno mediante trabalho de expressões criativas. Suas palavras me tocam, pois também acredito no tratamento a partir das imagens oriundas do inconsciente, tendo em vista que a linguagem da psique é essencialmente imagética, simbólica-metafórica, conforme apreendemos da psicologia junguiana!
"Uma das batalhas inevitáveis da adolescência se dá entre o impulso regressivo, de retorno ao que é conhecido, familiar e seguro, e o movimento à frente, em direção ao mundo, e seus indícios podem ser vistos na sintomatologia clínica de adolescentes em crise." Richard Frankel
A adolescência é uma fase do desenvolvimento que é essencialmente paradoxal; por isso, percebemos os adolescentes se debatendo entre polos opostos e os conflitos que decorrem por não saberem lidar com a tensão causada por essa dialética. Exemplo disso: a dependência (típica do período da infância) x a responsabilidade (atributo da vida adulta). Os adolescentes não são mais crianças, nem ainda adultos; mas experimentam algumas das características de ambas, tendo por função abandonar a infância para se dirigir à maturidade da vida adulta. Desse modo, para Frankel, o tratamento psicoterapêutico com adolescentes precisa “contemplar dialeticamente as diferenças forças a que estão submetidos”, ou seja, precisa levar em conta a tensão dos opostos experimentada pelos adolescentes. (FRANKEL Richard. A Psique Adolescente. Vozes, 2021)
"Se pudéssemos liberar a nossa energia psíquica do papel de sentinela, imaginem a energia que poderíamos empregar em intimidade verdadeira, criatividade, compaixão sincera e amor." Kathleen A. Brehony
A autora K. A. Brehony (Despertando na Meia Idade) aponta nessa frase o quanto é desgastante energeticamente a repressão ou ocultação de alguns aspectos “indesejados” da personalidade. Refere-se, portanto, aos conteúdos da sombra que são rechaçados pelo ego durante uma boa parte da vida, muitas vezes como forma de defesa e de sustentação exagerada da persona. Todavia, isso só é possível mediante um esforço debilitante para a psique! Geralmente na fase da meia idade nos deparamos com a premente necessidade de integração de alguns conteúdos até então desconhecidos; faz parte do processo de individuação. Assim, a autora menciona o quanto de energia pode estar disponível à personalidade para uma vida mais livre e criativa quando libertamos a psique da obrigação de se manter sempre em vigilância para não demonstrar (tornar conscientes) esses aspectos considerados ruins, vulnerabilidades, sentimentos negativos, traumas, defeitos, tendências etc. (BREHONY Kathleen A. Despertando na Meia Idade. Paulus, 1999)
"A redução do outro, a visão unilateral e a falta de percepção sobre a complexidade humana são os grandes empecilhos da compreensão." Edgar Morin
Diante da complexidade da psique humana, é necessário reconhecermos que nenhuma vertente da ciência psicológica é capaz de compreendê-la por completo; sobretudo, por se tratar de um fator subjetivo acima de tudo. Portanto, são várias as explicações possíveis, que embasam diversas teorias e abordagens. O pensamento de Edgar Morin vai ao encontro da psicologia analítica, haja vista que para Jung uma vertente que desconsidere a existência de outros aspectos além da manifestação consciente tende a ser redutiva e unilateral, ainda que forneça explicaçoes plausíveis.
"Os complexos formam o substrato teórico da psique, podendo, na verdade, dominar as quatro funções psicológicas." James Hillman
Em outras palavras: O funcionamento das quatro funções básicas da consciência (pensamento, sentimento, intuição e sensação) é influenciado pelos complexos pessoais que, em última instância, possuem ligação com a dimensão arquetípica da psique.
Segundo Hillman, não podemos desdenhar do aspecto impessoal de nossas experiências. As quatro funções são operações potenciais do Ego; todavia, os complexos e seus núcleos arquetípicos não estão sob sua influência direta, mas formam aquele “substrato” essencial! Um exemplo do autor: “a função sentimento de um indivíduo pode ser altamente determinada pelo complexo materno, de modo que todas as suas respostas, valores e julgamentos vinculados com o sentimento reflitam ou contrariem a mãe pessoal desse indivíduo”. Por isso, para a psicologia analítica é tão importante levar em consideração a dimensão arquetípica no tratamento de distúrbios psicológicos! J. Hillman – A Tipologia de Jung (p. 120)
"O excesso de subjetividade é o fator que produz uma intensidade de vida sentimental e a inadequação da expressão." James Hillman
Em outras palavras: A função sentimento não desenvolvida tende a ser expressa de forma intensa e inadequada, devido a um excesso de subjetividade dissociada de outros elementos conscientes.
James Hillman afirma que o desenvolvimento da função sentimento refere-se a duas coisas: Primeiramente, refere-se à admissão na consciência de todos os sentimentos que se manifestem, ainda que negativos. Admitir tais sentimentos significa deixar de reprimi-los! Pois, uma vez trazidos à luz da consciência, esses sentimentos passam a ser conhecidos, aceitos e estarão mais sob controle do ego. Além disso, o desenvolvimento significa também “uma evolução da função, que passa de sua estreita base subjetiva para uma adaptação mais livre”; isso porque a função sentimento não desenvolvida tende a ser expressa pelo indivíduo de forma muito intensa e inadequada, devido a um excesso de subjetividade – conforme apontado na citação. Esse “excesso de subjetividade” produz uma ebulição no campo dos sentimentos, tornando o indivíduo bastante emotivo e reativo, sem o contrapeso necessário da objetividade. Hillman menciona ainda que mesmo sentimentos positivos (por exemplo amor e júbilo) podem acabar sendo expressos de modo errado, na hora errada, devido ao funcionamento inferior (não desenvolvido) da função sentimento, uma vez que o indivíduo tende a fazer julgamentos errôneos e, assim, a distorcer as percepções. “Mesmo os sentimentos mais agradáveis e aprovados, como o amor altruísta e a adoração religiosa, podem ser carregados de intensidade ilusória e de excesso de subjetividade. De igual modo, qualquer sentimento – mesmo o mais peculiar e condenado, como a traição e o sadismo – pode ser fonte de percepção e de comportamento apropriado nas mãos de uma função sentimento superior. (...) Não são os sentimentos, mas a inferioridade do nosso funcionamento aquilo que nos leva a estragar os nossos prazeres e a ferir os nossos entes queridos.”
J. Hillman – A Tipologia de Jung (p. 165)
Tudo isso nos leva a refletir sobre a importância da educação do sentimento enquanto função da consciência!!!
"Os sentimentos e fantasias contidos em um sintoma específico podem simbolizar um futuro em formação." Richard Frankel
Em outras palavras: Os sintomas muitas vezes são retratos de conflitos psicológicos, mas também podem ser analisados em sua finalidade simbólica.
Desse modo, não é suficiente procurarmos entender somente a causa dos sintomas, mas será fundamental analisarmos por que tais sintomas afloram, quais os seus objetivos e para onde tendem a nos conduzir. Isto porque a psique - enquanto sistema autorregulador - está sempre buscando a manutenção do seu equilíbrio, sendo capaz se produzir certos sintomas (psíquicos ou físicos) visando um resultado futuro.
Richard Frankel - A Psique Adolescente (p. 25)